Simplicíssimo

Eles & Elas

SÃO CATORZE MINICRÔNICAS INDEPENDENTES (não são continuações)

– Você é uma besta quadrada! – disse o marido.
– E você, um veado redondo!
Ele ficou dias calado/magoado tentando compreender o que realmente ela havia lhe dito.

II

– Vamos fazer amor, querido?
– Não posso, mulher, não está vendo que eu parei de beber…
– Hein? Como assim?

III

– Eu quero saber o nome da sua amante, miserável! Fala!
– Que amante, mulher?
– Aquela que você com certeza tem. Eu nunca vi um homem ficar sem transar três meses com a esposa e não ter outra!
– Só se for a Zelda.
– Eu sabia! Quem é a Zelda, desinfeliz, quem é?
– Zelda! A mulheeer inflááável!!!

IV

– Posso te pedir uma coisa, benhê?
– Pode, linda, claro.
– Quando nós estivermos fazendo amor você pode parar de ler seu bendito jornal?
– Sem problemas, querida, desde que você também páre de fazer seu maldito tricô.

V

– Ah, te peguei, seu miserável, sem-vergonha! Chegando a essa hora, de fogo, e ainda com esse cheirão de perfume barato!
– Ai, querida, você não vai acreditar, mas é a pura verdade: depois do serão de hoje, eu fui comprar um vidro de perfume de presente pra você e de repente, como eu estava meio tocado, pois eu bebi pra recuperar minhas energias, eu caí em cima dela na rua…
– Dela, queeem, seu sujo?
– Da água de cheiro, meu anjo.

VI

– Ô, bem, mas assim não é possível, você usou meu aparelho de barba de novo?
– Quem, eu? Não, foi o, foi a… Ah, não, tá, tá certo, fui eu mesma. Me desculpa, liiindo.

VII

– Você precisa perder esse costume, amor.
– Que costume?
– Esse, o de ficar olhando pra toda mulher que passa perto de você.
– Mas eu não olho, bem.
– Olha.
– Não olho.
– Olha.
– Tá bem, eu olho. Mas… poderia ser pior.
– Como pior?
– Você já pensou se em vez de eu ficar olhando pra toda mulher que passa eu olhasse pra todo homem que passa?

VIII

Na locadora:
– Eu quero alugar um dvd de amor, de sexo.
– Não, querida, vamos assistir a um filme de guerra.
– Ah, não, eu quero de amor.
Ele, sarcástico:
– Tá aqui, bem, um filme antigo, de guerra, mas que vai te excitar também. O Buraco da Agulha.
Ela, mais sarcástica ainda:
– Não, bem, então vamos levar este aqui, Os Canhões de Navarone. Garanto que você vai ficar mais arretado que eu…

IX

– O que foi, amor? Está triste por que?
– É lá no serviço…
– O que houve no serviço?
– Me chamaram de feia…
– Feia?! Pelo amor de Deus, você é linda, mulher!
– É mesmo? Você acha isso?
– Claro.
– Eu sou bonita mesmo, amor?
– Você é linda. Lindíssima. Olhe ali no espelho, olha. Por acaso aquele rostinho ali é feio?
– Não sei…
– Ara, deixa de bobagem. Você é uma deusa.
– Amor…
– Hein?
– Eu estava pensando…
– Pensando em quê?
– Acho que eu vou tentar ser modelo.
– Você vai o quê?
– Tentar ser modelo, bem, você disse que…
– Modelo?! Você quer ser modelo?!
– É, bem, você mesmo falou que…
– Ara, tenha paciência, mulher, você nunca se olhou no espelho, não? Modelo! Pelo amor de Deus, com esse narigão…
– Benhê…
– O quê?
– Você já foi à puta que o pariu hoje? Não? Então vá…

X

– Vamos fazer amor, paixão?
– Não posso, estou com uma tremenda dor de cabeça, queridinha.
– Ah, vem cá que eu te dou um milhão de beijos nessa sua cabecinha linda e você já fica bom.
– Tá. Você jura que beija minha cabecinha umas duas horas?
– Beijo.
– Beija mesmo?
– Com certeza.
– Ah!
– Então, lá vai.

– Já está melhorando?

– Hum, não.
– E agora?
– Também, não.
– E agora?
– Amor…
– Hã?
– Não é esta cabecinha que está doendo…

XI
– Querida, eu estou lendo agora mesmo aqui na Internet que a mulher é mais teimosa do que o homem…
– Não é, não. O homem é mais teimoso. Eu li ontem numa revista.
– Ah, a mulher é mais teimosa.
– Não é. É o homem.
– É a mulher.
– É o homem.
– É a mulher.
– É o homem.
– A mulher.´
– É o homem, pô!
– A mulher!
– É o homem, cabeçudo!
– É a mu-lher!
– É o homem!
– É a mulher, a mulher, a mulher, a mulher!
– Está bem, eu concordo. É a mulher.
– Aí, eu não disse?!
– Bobinho! Com essa minha atitude eu acabei de provar que vocês são muito mais teimosos do que nós. Entendeu?
– Que nada, a mulher é mais teimosa…
– Ô, cabeção, além de teimoso você é burrinho, burrinho, né?

XII
– Benhê, pooor favor, não deixe mais esse monte de cabelos no sabonete. Ai, meu Deus, que nojo.
– Não são cabelos, amor, são pêlos.
– E daí? Dá na mesma, né?
– Não dá na mesma, não. Tem horas em que você até beija e até come eles e agora você diz que tem nojo?!

XIII

– Ah, bandido! Quem era aquela mulher que você estava beijando na boca, quem, quem?
– Ara, benzinho, era só a minha melhor amiga, ué.
– Amiga?!
– Era.
– E você beija suas amigas na boca, ordinário, beija?!
– Não, amor, eu disse que ela era a minha melhor amiga. Melhor a-mi-ga!
– E daí?
– Bom, e daí que eu só beijo na boca as minhas MELHORES amigas… as outras, não.

XIV

– Querido, tem um cara olhando pra mim desde que nós chegamos aqui na buate.
– Quem?
– Aquele lá.
– Ah, aquele?
– É.
– Não tem problema, não, bem.
– Como não tem problema? Você não vai lá tirar satisfação com ele?
– Não.
– E por que não?
– Ah, porque aquele cara é muito feio pra você. Você não iria querer nada com ele

mesmo.
– É? Tem certeza?
– Tenho.
– É mesmo?
– É. E depois ele é muito velho. E, depois…
– Hum, e depois…
– Depois ele é muito gordo. Você iria ter até nojo dele. E, depois…
– Sei, e depois o quê, seu cagão?
– E depois ele é meu chefe. Vamos sair daqui dessa buate jááá!

FIM

João Batista dos Santos

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