Não, não era a Toinha (esse era o apelido carinhoso que eu havia dado a ela há trinta anos atrás).
A mulher era bem semelhante à minha antiga e predileta parceira, mas, depois que eu troquei meus óculos pra perto pelo pra longe, percebi que não era ela.
Parecia mais a Mortiça, da Família Adams.
A mulher, ou melhor seria dizer, a velhota, entrou no salão e perguntou:
– Me paga uma pinga, bonitão?
Resolvi brincar um pouco com a "garota":
– Não, eu prefiro uma batida de suco de barata com aranhas…
Ela vibrou.
– Nossa, é a minha preferida, bem.
Pelo jeito ela não tinha entendido a piada.
– Põe uma batida tripla aí, Ditão. E uma pro coroa aí também.
O pior é que ela falava sério.
Cheirei a batida, quase vomitando.
Saí-me com essa:
– Hum, essa aqui não me parece suficientemente envelhecida, meu bem.
– O quê?
– É. Parece que essa não tem nem doze anos. Acho que vou querer a pinga mesmo. Traz uma 51, amigo. Bem caprichada.
O barman bebeu a batida de uma só vez.
– Não devemos desperdiçar – ele falou, lambendo os beiços e servindo a cachaça.
De repente, ouvi outro grito ensurdecedor.
O Dito me tranquilizou:
– Deve ser o freguês da Geralda… Quando ela não quer vesti-lo de bebê, ele grita assim.
Quase ao mesmo tempo, ouvi outro berro.
O Dito bocejou:
– Deve ser o freguês da Jacira… Quando ela não quer fazer roleta-russa no ouvido dele, ele berra assim.
A "Mortiça", depois de beber uma dúzia de batidas, me convidou:
– Vamos, boneco?
Dei uma geral na "garota":
Os peitos quase chegavam ao umbigo.
A barriga era três vezes maior do que a bunda.
As pernas lembravam direitinho o mapa da Amazônia, de tantas varizes.
A chapa que ela usava precisava urgentemente de um clareamento.
– Olha, garota, eu estou aqui só recordando os velhos tempos. Acho que não vou querer nada, não.
E ela:
– Ah, já entendi. Dito, traz um envelope de Viagra aí.
– Não, não é isso, amor. Você é muito bonita mas é que ontem mesmo eu transei umas dez vezes, então… bom eu não sou de ferro, né?
– Sei, sei… Acho que o seu negócio é outro, né, boneco? Dito, chama o Tião!
Fiquei fodido!
– Eu sou espada, sua filha da…
Nisso, surge outra mulher na porta.
Seria a Tonha?
Sim, acho que dessa vez era.
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