Pois bem, minha vó sempre dizia que não é no fim do arco-íris, mas sim no fundo do poço onde sempre tem um pote de ouro.
Aquele jornal aberto na página dos classificados na mercearia do Adhemar – fiel fornecedor do meu leite e pão diários – poderia ser meu pote de ouro. Não sei se existe alguma explicação para isso, mas desde que me tenho por gente e vejo alguma coisa destacada em alguma página, meus olhos corem de pronto para o que está logo abaixo, quando seria de se esperar que o destaque desse atenção para si próprio. Já me perguntei várias vezes se isso só acontece comigo ou… Até já tinha comentado isso com seu Adhemar.
O fato é que, abaixo daquele anúncio circulado em vermelho vivo (que não sei o que oferecia ou solicitava) estavam as quatro linhas mais significativas dos últimos 23 anos para mim:
“Barbearia do Olavo – necessita
auxiliar de barbeiro. Início
imediato. Remuneração a
combinar. Fone 52651045”
Fiquei tomado de tanta euforia que deixei o leite e o pão em cima do balcão e fui correndo para o orelhão da esquina telefonar. Depois de dois toques que pareciam ter durado o infinito, atendeu o telefone uma voz que disse “Bom dia, barbearia do Olavo a seu dispor”. Aquela voz firme mas amável ao mesmo tempo era exatamente a voz que eu daria a alguém chamado Olavo que tivesse o ofício de barbeiro.
Bom dia, respondi, estou ligando atendendo ao anúncio do jornal desta sexta, que pedia um auxiliar de barbeiro. “Ah, sim, o anúncio da semana passada, você quer dizer.” Fiquei sem entender. “Já tinha desistido de encontrar alguém, e os anúncios de jornal são tão caros…” É verdade, respondi. Então quer dizer que a função ainda está vaga? “Sim, gostaria de passar aqui para podermos conversar pessoalmente?” É claro. Peguei o endereço e combinei de passar lá no início da tarde daquela mesma sexta-feira.
Quando voltava para casa, seu Adhemar gritou, lá dos fundos da mercearia, me trazendo o leite e os pães. Acontece que, pelo resto do dia, já estava alimentado.
Comente!