"Imagine dois jovens gêmeos idênticos. Um deles é recrutado para ser astronauta e fazer um voo experimental em uma nave capaz de atingir 50% da velocidade da luz. Ele parte, vai até Alfa Centauri (a estrela mais próxima do sistema solar) e volta, numa viagem de 16 anos. Quando retorna, a surpresa: seu irmão gêmeo já é um idoso, à beira da morte, enquanto ele envelheceu apenas o tempo da viagem".
(Superinteressante, Ed. 265, maio/2009, pág. 20)
– Não tem trocado, moço? A passagem é R$2,50 e não tenho troco pra R$100.
– Eu acerto com você na volta, então. Tudo bem?
– De jeito nenhum. Quando o senhor voltar eu vou estar mortinha da silva há muitos anos.
– Ah, é. Tinha esquecido deste detalhe.
– E vai que a nave desembesta e atinge a velocidade da luz… aí o senhor vira luz também. E luz não paga o que deve pra ninguém. Nem conta de luz.
– Faz sentido. E pra falar a verdade eu tô embarcando justamente pra escapar de uns credores que andam me enchendo a paciência. Uns três ou quatro anos de viagem, a uma velocidade beirando aí os duzentos e noventa mil quilômetros por segundo e pronto. Quando fizer o retorno a dívida já vai ter caducado há décadas. Fora que eu vou estar só com um pouquinho mais de idade e perfeitamente apto a galinhar as bisnetas dos caras que estão me cobrando hoje.
– Pensou em tudo, heim?
– E outra: supondo que os meus credores de hoje fiquem com o meu patrimônio, vou recuperar tudinho e muito mais casando com uma das bisnetinhas.
– O que é a tecnologia, não?…
– Bendito Albert Einstein e sua Teoria da Relatividade. Aposto que ele não tinha atinado com este maravilhoso desdobramento enquanto se matava de trabalhar enunciando suas descobertas.
– Pro senhor ver.
– Bom, voltando ao nosso teórico e relativo impasse. Não tem mesmo troco pra 100?
– Não tenho. Se tivesse a gente não ficaria aqui perdendo tempo, o senhor já teria embarcado e, quando voltasse do seu passeio intergalático, eu, coitadinha, já estaria comendo grama pela raiz. E vale-transporte, o senhor não tem nenhum aí? A gente aceita.
– Eu sou autônomo, quisera eu ter um patrãozinho pra me pagar a condução. E por favor, não me chame mais de senhor. Falando comigo desse jeito, me sinto mais velho que o Einstein naquela foto com a língua de fora. Olha, acho que o destino tramou para que você não tivesse troco. Seria uma tristeza voltar dessa viagem sem graça e encontrá-la na sepultura… que desperdício, imagina só.
– O senhor está sendo um tanto precipitado. Nos conhecemos agora e o senhor – quer dizer, você – tinha outros planos em mente, muito mais audaciosos. Pra quem imaginava um golpe do baú espacial você está se contentando com muito pouco. Se eu te mostrar o meu salário e a pindaíba em que vive a minha família, você muda de ideia já.
– Então vamos fazer o seguinte: enquanto eu fico aqui resolvendo o que fazer, você cobra as passagens de outros viajantes e arranja troco pra minha nota de 100. Daí, quando acabar o seu expediente, a gente toma uns drinques e de repente você decide ir comigo. Afinal de contas, você não vai querer ficar a vida inteira trabalhando de cobradora de foguete, certo?
– Mas antes você se casa comigo?
– Ô louco. Depois eu é que sou precipitado… vamos com calma, pra isso tem tempo.
– Todo o tempo do mundo, meu senhor. Quer dizer, meu amor.
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Marcelo Pirajá Sguassábia é publicitário.
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