Simplicíssimo

IDEIAS: MELHOR NÃO TÊ-LAS

Não diga a todos a ideia que você teve, pois nem todos têm a ideia de deixar que ela continue sendo sua. Não guarde-a para você, entretanto, pois sua brilhante sacada só fará algum sentido se você dividi-la com todo mundo, ainda que seja genuinamente de sua suada lavra. Paradoxal. Triste e paradoxal.
 
Não pense que procedendo ao registro, com não sei quantas cópias assinadas, autenticadas e protocoladas na Biblioteca Nacional, estará sua ideia a salvo, pois ela poderá salvar a falta de inspiração de alguém que você nem imagina quem seja. Não me pergunte como, mas esteja certo de que é isso que irá acontecer. Um Zé Arruela se apropriará dela sem cerimônia ou peso de consciência, e ficará rico com o seu rebento intelectual enquanto o julgamento do mérito se arrasta na justiça. Se é que você vai ter grana, paciência e tempo para tentar provar que o que é seu é seu mesmo.
 
Não se iluda achando que metê-la num blog, com posts datados, pode ser a prova cabal de que a ideia foi primeiro sua. Por ter atualizações constantes, o larápio internético já sabe com que frequência deve passar por lá para saquear ideias fresquinhas. Muitas vezes bem na hora em que elas saem do forno, para ficar cronologicamente empatado com você no post que ele vai fazer no blog dele. Blog, aliás, com cem vezes mais visitantes que o seu sítio virtual.
 
Não caia na armadilha de gestá-la em seu perfil nas redes sociais, pois estará arrumando um ou mais sócios de copyright, que provavelmente descolarão muito mais curtidores e seguidores que você.
 
Não tente escrever um livro juntando suas muitas e grandes ideias, pois esse livro será digitalizado e disponibilizado nos sites de compartilhamento da vida, e ganhará autoria variada. Não imagine, portanto, em se locupletar ou ao menos viver dignamente com o dinheirinho honesto que porventura conseguiria tirar de seus direitos reservados – um sujeito muito mais esperto se reservará o direito de colocar o nominho dele no lugar do seu. Exceção se faça às bulas medicinais, aos manuais do proprietário, a alguns dos mais obscuros livros do Antigo Testamento, à autobiografia "Mein Kampf", de Adolf Hitler e, evidentemente, aos "Versos Satânicos", do Salman Rushdie. Nesses casos, pelo menos até onde se sabe, ninguém apareceu até hoje contestando a autoria. Mas amanhã é outro dia, e ao escrever isso eu já estou dando a ideia a alguém…
 
© Direitos Reservados (ainda que ninguém possa garantir)
 

 

 

Marcelo Pirajá Sguassábia é redator publicitário e colunista em diversas publicações impressas e eletrônicas.
Blogs:
 

www.consoantesreticentes.blogspot.com (contos e crônicas)
www.letraeme.blogspot.com (portfólio)
Email:
msguassabia@yahoo.com.br

 

Marcelo Sguassabia

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