Passada a consternação que assolou o país com o desaparecimento de um dos maiores nomes de nossa música, a família de Wandu deu entrada na tarde de ontem ao processo de inventário, para a partilha do patrimônio do artista.
Na busca por bens e direitos do falecido em cartórios e juntas comerciais, apurou-se que, além de proprietário de duas linhas de telefone celular e do título do Clube de Campo Apogeu da Paz, Wandu era sócio majoritário de uma obscura e deficitária fábrica de giz em Mairiporã, na Grande São Paulo, da qual lhe eram creditados mensalmente R$ 1.230,14 a título de pró-labore até o mês de julho de 2009, quando cessaram tais provimentos.
Familiares do cantor afirmam que sua decisão em associar-se à empresa deveu-se a dois fatores. O primeiro, a diversificação estratégica dos seus investimentos pessoais (como ele mesmo dizia, “é preciso colocar os ovos em várias cestas”). O segundo seria prover o fornecimento de gizes coloridos e de boa qualidade para uso exclusivo em suas turnês, já que Wandu tinha por hábito escrever com giz as letras de suas músicas no chão do palco, para que não se atrapalhasse nas apresentações.
Como é de conhecimento público, o finado mantinha em sua posse uma extensa coleção de peças íntimas femininas, em especial as vulgarmente chamadas “calcinhas”, que lhe eram arremessadas pelas fãs quando de suas apresentações Brasil e América Latina afora.
Contadas e catalogadas, as referidas peças somaram um total de 78.288.935 (setenta e oito milhões, duzentas e oitenta e oito mil, novecentas e trinta e cinco) unidades – de cores, formatos e modelos sortidos, algumas inclusive do tipo comestível.
Não havendo nenhum herdeiro legítimo ou requerente legalmente constituído que se habilitasse a ficar com o lote, o Estado determinou encaminhá-lo a instituições de caridade voltadas ao público feminino, de creches municipais a presídios federais, procedendo antes a uma triagem para separar as peças íntimas por faixas etárias: 0 a 7, 8 a 19, 20 a 48, 49 a 62, 63 em diante. O Ministério Público, no entanto, solicitou que do gigantesco montante fossem separados ao menos uns sete ou oito contêineres de calcinhas para doação a universidades e centros de pesquisa, por constituírem valioso material de estudo fúngico-bacteriológico pelas áreas de urologia e ginecologia.
Some-se a estes fatos a descoberta de um testamento, lavrado há cerca de três anos no 2º Cartório de Jacarezinho, que pode trazer novidades ao processo de divisão do espólio do cantor. Seu teor diz respeito especificamente ao bem de maior valor arrolado no inventário, ou seja, os direitos autorais da canção “Moça” – sucesso de 1975 executado até hoje nos mais distantes rincões deste país continente. Consta do documento que a citada “Moça” que dá título à composição existe de fato (ainda que, passado tanto tempo, poderia atualmente ser chamada “Velha”, isso se ainda estiver viva). O nome da dita cuja, seu RG, CPF e título eleitoral estão discriminados no testamento, sendo que a beneficiária deverá apresentar-se à justiça para que se proceda à aferição dos seus dados e lhe sejam concedidos os royalties doravante arrecadados pela obra.
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Marcelo Pirajá Sguassábia é redator publicitário e colunista em diversas publicações impressas e eletrônicas.
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