Esteve a bem dizer na multiplicação dos pães e dos peixes, aquela dos evangelhos, mas nem por isso saiu com a fome morta. Chegou segundos depois, e do milagre do Messias viu farelos e mais nada. Acabaram com tudo, pensou, comeram a não poder mais e nem um bocado restou ao meu estômago nas costas. Quis mesmo o filho do Criador que fosse assim? E se sim, por que comigo e não com outro? Clamava alento e pena da multidão saciada, que não o via, que já na sesta se estirava digerindo seu fastio, que não conhecia e nem soubera esperar por ele – um parente distante de Zebedeu. Era aquele que teve o azar de chegar depois da fartura que o Salvador fez servir. Assim refletia, quando sentiu a pontada no pé – espinha de peixe esquecida pelos famintos da hora. Santo sou eu que não como, e que do peixe só levo a dor deste machucado – desabafou, erguendo as mãos para o céu. E seguiu caminhando por meses, devagar e meio manco, até que encontrou as botas que Judas havia perdido.
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Marcelo Pirajá Sguassábia é redator publicitário e colunista em diversas publicações impressas e eletrônicas.
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