Muitos aproveitam o período de festas para falar de amor, fraternidade, união e harmonia. Serei voz destoante e declararei meu ódio pela terça-feira, esse diazinho à toa que merece a implicância e a repulsa de toda a raça humana.
Repare como todos os dias da semana têm sua cara e sua personalidade muito bem definidas, desde o início dos tempos. Sua função, digamos assim, dentro da folhinha. Todos, menos a terça. Só ela não diz a que veio, nos impondo suas intermináveis 24 horas de nhaca mal resolvida. A terça é vacilante, é um dia canhoto, um estorvo do qual é preciso se livrar o mais rapidamente possível. Você já viu alguém dizer que terça é o seu dia favorito? Pois então…
Raciocine comigo e veja se não tenho razão. A segunda é, por excelência, o dia do bode (se bem que, se você fizer uma enquete, verá que muita gente curte aquela segundona brava, argumentando que qualquer segunda serve para se livrar do domingo). Apesar de horrível, ela se assume como tal. É medonha e pronto, os incomodados que se afoguem em prantos ou se matem como quiserem. A quarta sinaliza o meio da semana útil, é por vocação um marco divisório e ninguém até hoje veio a público questionar sua utilidade. A quinta tem a dádiva de ser a véspera da sexta, e isso é uma honra para um dia da semana que se preza. A sexta dispensa maiores comentários. O sábado é de aleluia sempre, estando ou não na quaresma, e prenuncia o preguiçoso domingo, ansiado por todos. Beleza. E a terça-feira? É um acidente de percurso, um interstício que se mete onde não é chamado. Enfim, pra que a semana não tivesse 6 dias, que é o número da besta, é que inventaram a terça. Às pressas, sem medir as consequências, desconhecendo infantilmente o monstro que estavam criando para todo o sempre.
Da terça, até a religião se esquiva – preferindo manter dela uma sacrossanta distância. Temos, no calendário católico, a Sexta da Paixão, o Domingo de Páscoa, a Quarta de Cinzas, o Sábado de Aleluia. E nenhuma piedade com a terça, esta excomungada. Em contrapartida, os ritos pecaminosos deram a ela algum crédito, instituindo a terça-feira gorda para encerrar os folguedos de Momo. Mas é preciso admitir que “gorda” não é propriamente um predicado lisonjeiro, ainda mais quando atrelado a um substantivo feminino. E é assim, taxada de obesa, que a terça vai empurrando com a barriga a sua perpétua maldição.
Sem a terça, o ano teria em média menos 52 dias, o que anteciparia as datas dos aniversários (Uhuuuuu!!!). O fim de semana também chegaria mais rápido e a expectativa de vida aumentaria em 14,28%, ou um sétimo a mais.
Extinguir a terça é solução apaziguadora e definitiva, que só trará benefícios. Se depender de decreto governamental para referendar a decisão, sem dúvida teremos quórum de 100% no Congresso para aprovação da medida. Até porque a semana parlamentar, que historicamente se inicia às terças, passará para as quartas. Ou seja, nossos nobres deputados e senadores ganharão mais um dia de merecido descanso em suas bases, antes de retomarem sua estafante rotina em Brasília.
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Marcelo Pirajá Sguassábia é redator publicitário e colunista em diversas publicações impressas e eletrônicas.
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