MORRO DO VIDIGAL
– Tá aí o bagulho?
– Passa primeiro a grana pra cá. Vai, vai logo.
– É da boa?
– Purinha, brother.
– Vem agulha, seringa e algodão aí no papelote?
– Tirando uma com a minha cara, mané? E essa aí é um porrete, véi, pode sair de boa sem máscara que não pega nada.
BANCA DA 25 DE MARÇO
– Olha o mata-bicho da Covid! Aqui comigo a Covid é 19! É 19,99! É 19,99! Vai uma aí, queridão? Vacina de procedência, é anticorpo garantido, vamo chegando!
– Mas você está usando a mesma agulha e a mesma seringa pra aplicar em todo mundo! Que que é isso??
– Véi, tanto faz, né? Eu uso a mesma seringa mas é de um imunizado pro outro, então não tem problema. Se tiver um pouco de corona do camarada que tomou antes do senhor, na hora de encher a seringa com o veneninho vai matar tudo…
– Mas o cara que você vacinou antes de mim pode estar com hepatite ou sei lá o quê.
– Bom, aí, vacina de hepatite não é comigo. É na banca do Jacozinho, indo pra frente aqui, o terceiro camelô às direita, aquele ali de camisa aberta e corrente de ouro. Mas vamos lá que a fila anda, cumpadi. Qual marca que vai querer?
– Deixa ver aí o que você tem.
– Na mão, chefia. Quer dizer, tá aqui no isopor dos gelito. Eu vendo gelito e raspadinha também, o senhor vai querer? Olha, a gente temos ainda Tampico de laranja, uva, fruta silvestre…
– Tô com sede não, me mostra aí as vacinas.
– Tá aí, é só escolher.
– Ah, peraí meu amigo… Jesus, cadê a vigilância sanitária?! Olha aqui nos rótulos, eu ia dar risada se não fosse pra chorar… Faizer… Esputilink… Coronavasquez!!!!!!
– O senhor perguntou da vigilância sanitária? Deve tá tudo lá em reunião até hoje, pra escolher qual vacina que vai comprar pra imunizar o povão. Eu pelo menos tenho na pronta entrega. Pediu, pagou, tomou – sem burocracia.
– Não, eu não tô ouvindo isso…
– E geladinha, ó só…
Esta é uma obra de ficção.
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