Simplicíssimo

Naomi

Junichiro Tanizaki (1886-1965), tal qual nosso genial Machado de Assis, jamais saiu de sua patria e, ainda assim, construiu uma obra de caráter universal – admirada até hoje por grandes autores contemporâneos – caso do escritor turco Orhan Pamuk, Nobel de Literatura em 2006; que, certa vez, em visita a Kyoto, revelou inspirar-se muito na obra do autor japonês – ele próprio candidato ao maior prêmio da Literatura mundial em várias ocasiões.
E não é para menos. Tanizaki desvenda as camadas da psicologia de suas personagens como poucos autores sabem fazer. E isso é muito bem demonstrado na obra Naomi, publicada em 1924, logo após um grande terremoto ter atingido Tóquio.
Coincidindo com um período em que a cultura japonesa começava a sofrer influências da ocidentalização; a obra nos apresenta o personagem-narrador Jōji, um tímido (e típico) assalariado japonês, que, com vinte e oito anos de idade, conhece Naomi, jovem de quinze anos, de origem humilde, que trabalha em um bar. O nome exótico – algo incomum para os nomes-padrões japoneses da época – e as características físicas eurasianas da jovem acabam por atrair a Jōji; que decide cuidar da educação de Naomi, levando-a para morar com ele em Ōmori, na periferia de Tóquio.
Apostando inicialmente no potencial da jovem para os estudos; começam então as decepções de Jōji para com aquela que viria a ser sua esposa: Naomi revela-se mais interessada em danças, festas e a companhia de amigos mais jovens – principalmente de dois deles: Hamada e Kumagai – do que propriamente nos estudos. E aqui surge uma característica de Naomi que fará o leitor brasileiro lembrar-se da Capitu, de nosso Machado: o olhar dissimulado e, no caso da personagem de Tanizaki, mesclado a um certo ar de inocência. Uma dubiedade que a permite fazer o que quer, não somente de Jōji, mas de todos os homens a sua volta. Interessante observar também que, na transição para a vida adulta, a ocidentalização em Naomi assume até mesmo proporções físicas; o que, ao mesmo tempo que assusta ao pacato Jōji, termina também por fasciná-lo.
Como igualmente estará fascinado o leitor que se aventurar no ambíguo e, por isso mesmo, maravilhoso mundo de Naomi.
Boa leitura! (e Boas Festas!)

Edweine Loureiro

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