Simplicíssimo

O Império dos Sentidos

Osaka, Primeiro de Dezembro de 2001:

– Ué! o que deu nele?…

Minha pergunta parecia natural. Não fazia nem um minuto, o velho Fukushima conversava alegremente com o grupo de estudantes no salão principal da Residência (Kaikan), até que, de repente, como que tomado por uma fúria incontrolável, começara a bradar, o dedo em riste, apontando para a TV – um ato que claramente denunciava que a notícia do telejornal pertubara-o… e muito.

 Eu, sem entender patavinas de Japonês (havia somente dois meses que chegara ao Japão e ainda estava pelos hiraganas, a escrita básica), aproximei-me de um amigo das Ilhas Fiji, fluente na língua local, para tentar compreender o que estava acontecendo com o Senhor Fukushima. 

Em meio a risos, meu amigo explicou-me: o Senhor Fukushima havia se irritado pelo fato de a TV Japonesa estar noticiando, mais uma vez naquela noite, que a Princesa Masako dera à luz uma menina. 

Para quem pensa que isto é a coisa mais natural do mundo, aqui vale uma explicação. Pela Lei da Casa Imperial (por sua vez amparada pala Constituição de 1947), o sucessor ao trono Japonês, na linha direta, deve ser do sexo masculino (dizem que estão tentando mudar a Lei, mas até agora…). Bem, a Princesa Masako é casada com aquele que, na linha de sucessão, será o próximo Imperador. Com o nascimento da princesinha, o trono ficaria, na geração vindoura, sem um sucessor direto. Daí o desespero do Senhor Fukushima, o carismático guarda noturno de nosso Kaikan –  e, até aquele momento, um pacífico senhor.

– Mas se o próximo filho da Princesa Masako for um varão? – perguntei a meu amigo, ingenuamente.

– A coisa não é tão simples assim. ― respondeu o gigantesco Wilford – A Princesa Masako já não é tão jovem, e não se sabe quando (ou se) poderá ter um próximo filho…  

 – Ah, bom…– limitei-me estupidamente a dizer, sem comentar as possibilidades dos avanços na Medicina, etc, pois tinha sono e tudo o que queria naquele momento era dormir. Sendo assim, após despedir-me de quase todos os presentes – o velho Fukushima não respondera, ocupado que estava, ainda, em praguejar contra os deuses e a Princesa Masako –, decidi retornar para o meu quarto. 

Porém, já em meu minúsculo aposento, incrivelmente, perdi o sono. Não porque estivesse preocupado com o futuro do trono japonês. Mas porque, quando liguei minha pequena TV portátil, estava passando um filme do polêmico cineasta Nagisa Oshima, o qual, na década de 70, chocara a muita gente – O Império dos Sentidos, lembram? 

Um clássico imperdível…

Edweine Loureiro

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