Simplicíssimo

Operário

Naquela manhã, Pedro saiu às quatro para o trabalho. Uma hora a menos que o habitual. Havia passado a noite em claro, atormentado por uma única e incessante preocupação: o pagamento do aluguel. Já estava no segundo mês de atraso, e o senhorio mandara avisar: ou pagava em uma semana, ou rua!… E, para agravar a situação, o salário também atrasado…

Miséria de vida, refletia, enquanto caminhava até a parada de ônibus. O dia todo, oito, dez horas, apertando parafuso… E no final do turno, os dedos, as costas… uma dor por todo o corpo… E para quê? Para viver no sufoco…

Faltava ainda meia hora para o ônibus e resolveu esperar na padaria – tempo suficiente para um gole de café. No balcão, um homem conversava com o dono do estabelecimento:

"A greve começa amanhã. E é geral."

Foi entao que Pedro se aproximou:

"Greve?"

O homem voltou-se, não disfarçando o incômodo pela intervenção abrupta daquele desconhecido:

"Ora, então o amigo não sabe? O Sindicato dos Metalúrgicos decidiu pela paralisação às onze horas de ontem. A ordem é para todo trabalhador aderir…– e acendendo um cigarro: – O senhor é metalúrgico?"

"Não, senhor" – mentiu Pedro.

No ônibus, o pensamento, agora, na greve. Máquina parada, a essa altura, significava somente uma coisa: mais atraso de salário, para pressionar os grevistas. E isso não poderia ocorrer em pior hora: os dois meninos começando as aulas na próxima semana – a lista do material escolar… Isso sem falar na comida e, é claro, no aluguel…

Na fábrica, um amigo confirmou a notícia logo na entrada. Parariam as máquinas até que as reivindicações dos metalúrgicos fossem atendidas. Pedro ouviu calado as palavras do companheiro. Em seguida, pondo o capacete e as luvas, dirigiu-se até a sala de máquinas para mais um dia de trabalho…

Edweine Loureiro

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