Simplicíssimo

Lady Du

Durvalina está quase pronta.

Gira que nem bailarina em frente ao caco de espelho.

(Mais um pouco de batom?

Achou um quase novo no lixão.)

As sandálias estrangulam seus pés.

(A defunta era menor?)

O vestido, ao contrário, um balaio.

Em vez de um par de luvas, só uma, na mão direita.

Em vez de colar de brilhantes, uma grinalda de porcas e parafusos.

(Presente dele.)

Mas Durvalina está feliz.

É sábado.

É noite.

Daqui a pouco Antônio chegará.

Com cartola, smoking e um charuto inteirinho.

(Onde esse homem arranja tudo isso, meu Deus?)

E o coração dela quase irá pifar ao ouvi-lo convidar, talvez pela última vez:

– Vamos, Lady Du! A noite nos espera! A vida nos espera!

Eles beberão cachaça como se fosse vinho do Porto.

Comerão restos de angu como se fossem caviar.

Dançarão no asfalto como se fosse numa pista de um clube chique.

Depois, voltarão à limusine que os levará lentamente às estrelas.

João Batista dos Santos

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