Perguntou à avó o que era "aliás"…Aliás, a avó fez que não escutou. Depois, se fez que ouviu e driblou uma desculpa qualquer, mandando a menina ir brincar… Que coisa séria esta criatura! Não há quem ature uma pessoinha de sete anos cheia de crises de meia idade.
– Seu João! Leva essa menina prá andar de carro-de-boi que ela já está triste de novo…!
E lá se ia seu João-da-carroça-da-algodoeira, puxando o boi e a menina, praças e ruas afora… Ela, com pensamentos que já pesavam uma arroba, tinha uma alminha leve que nem os flocos de algodão.
– Ô, seu João! Por que o senhor é preto? Seu pai também é colorido?
Mal dava tempo do outro entender e já sapecava:
– Minha avó, que se chama Rosa, é toda amarelinha… E as goiabas? Vovó não deixa eu comer porque estão verdes, mas eu juro que elas são todas cor-de-rosa por dentro, eu juro! E ficava triste de novo…
– Quando é que uma coisa verde pode ser cor-de-rosa, hein seu João? E o senhor me disse que já tá azul de fome mas continua pretinho da silva, não é? Quem já viu? Vocês quando ficam grandes confundem as cores todinhas…E eu não entendo é mais nada! Fazia cara de chôro.
O carroceiro, desconfiado da sanidade da menina, apressava um pouco o passo da geringonça para distraí-la. Jamais duvidara de que aquela patroinha era meio fraquinha do juízo… Ô menina escalafobética! Pensava alto, repetindo, orgulhoso, as palavras que ouvira a avó da criatura desfilar… Ela tem de tomar maracujina prá ver se dorme ou então essa menina vai se acabar é cedo!
– Ô, seu João! Pára um tiquinho que o boi já tá chorando…Chora mais não, boi! E consolava-se com o animal cansado.
Então, seu João esbarrava a carroça pesada, cheia da menina e dos atropelos dela. Paciente, esperava passar mais um surto de solidão infantil. Pois não é que até de boi de moenda aquela criatura tinha pena? Aquilo sim, era com muita certeza, uma "crise de meia idade"! Idade meio chata, dizia ela. Idade meio sem graça… Aliás, diga-se de passagem, a menina fazia questão de saber de tudo:
– Vovó, o que é mesmo uma crise, hein? E então, começava tudo de novo…
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