É fácil tornar os discursos de hoje intocáveis aos ouvintes, principalmente em época de crise econômica, social e política mundial. Esse fato, característico entre a maioria dos oradores, vem se agravando à medida que aumenta nosso interesse em compreender assuntos que circundam nossa vida.
Ao ligar a TV hoje pela manhã, deparei-me com um economista do Bank Boston of Sei-lá-o-quê. Ao ser anunciado, pareceu-me tratar-se de algum estrangeiro por possuir sobrenome estranho (não os nossos Silva e Rodrigues habituais). Para minha surpresa era brasileiro, fruto da miscigenação entre as diversas culturas que formam nosso país. Ao começar a falar tive a certeza de se tratar de alguém culto, especialista na área econômica, por dois fatores: por realizar bela apresentação verbal sobre a conjuntura econômica brasileira, e por não conseguir fazer com que eu entendesse no que aquele tema iria influir na minha vida. Será que sou tão burro assim? Acredito que não. Até tenho conhecimentos em Contabilidade e Administração. Mas entender as BOLHAS e SENTIMENTOS do capital especulativo e financeiro é demais para mim. Afinal não sou economista, nem psicólogo.
Acreditando que o problema pudesse estar comigo, fui para o trabalho. Aquele acontecimento matinal não saía do meu pensamento. Divaguei por alguns momentos em minhas teorias econômicas e resolvi indagar um colega sobre o assunto. Ao dirigir-me ao colega mais próximo, não quis interrompê-lo enquanto discutia questões técnicas (trabalho na área tecnológica) com outra pessoa. Fiquei escutando e, como se não entendesse nada do assunto, as palavras, siglas, códigos e peculiaridades do tema começaram a me fazer mal ao ouvido. Seriam ET´s a minha frente? Até poderiam ser. Era "CPT" para cá, "ZOPT" para lá; "a rota está com CO"; "dá um MOCOI"; "faz um UPLOAD do arquivo; "salva o BILHETE como AMA-80 ou AMA-128"…
Caí na real, literalmente. Tive um OVERLOAD e meu processador interno começou a recarregar o software. Era preciso informar-me mais sobre quaisquer assuntos que quisesse participar, entender ou opinar. Tentar entender as BOLHAS da economia seria impossível para alguém como eu, que nem sequer viu (se é que se enxerga isso) uma BOLHA financeira. Por isso, antes de tentar escrever um roteiro de filme de terror de 20ª categoria, estilo "O ataque dos tomates assassinos", resolvi resignar-me.
Dessa forma, gostaria de manifestar a minha indignação com os meios de comunicação. Quero ler e/ou ver nos jornais textos acessíveis, mas não vulgares; específicos, porém não tão técnicos; inteligentes, que não sejam sinônimo de incompreensível. Transformar assuntos, que afetam a vida das pessoas, em orações bem articuladas e técnicas é, somente, uma forma de escondê-los da grande maioria das pessoas que nem sequer tem conhecimentos de Contabilidade e Administração, como eu.
Por outro lado, a partir das reflexões desse caso, encontrei explicações para não ter escrito nada ainda sobre a guerra que se desenrola no Oriente Médio ou questões políticas e econômicas do nosso país. Não tenho conhecimentos técnicos sobre esses assuntos. Minhas ponderações seriam meras opiniões, sem conclusões sobre o assunto e provavelmente unilaterais. Mostrariam nada mais que um ponto de vista humano, de um homem racional e emocional, que (tenham certeza) evitará ao máximo ocupar esse espaço com termos tecnológicos.
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