Simplicíssimo

Amor, efêmero amor

Caguei e foi gostoso.

E, ao contemplar aquela obra, resultado de meu esforço pessoal, não pude resistir ao orgulho que me inundou. A textura e cor uniformes, forma cilíndrica perfeita, lisinha. Uma pequena curvatura em arco dava-lhe ainda maior charme.

Fui tomado pela ternura, após alguns instantes de admiração, e uma vontade quase irresistível de pegá-lo em meus braços, apertá-lo junto ao peito e beijá-lo com carinho.

Havia ali uma parte minha, algo de meu interior mais profundo.

Mas, os conceitos e padrões de comportamento impostos pela sociedade estão visceralmente enraizados em minha consciência para que eu possa rompê-los assim tão facilmente. Sou forçado a premir o botão que mandará aos subterrâneos tudo o que se estabeleceu nessa relação tão intensa, mas tão efêmera.

Hesito. Não consigo tirar os olhos dessa criatura; só minha, essa criação.

Sinto-me o algoz frio e covarde que executa brutalmente um indefeso, caído, largado à própria sorte, sem sequer membros para lutar ou fugir.

Mas faço o que deve ser feito. Os aspectos culturais profundamente imbricados são mais poderosos do que um qualquer sentimento.

Tenho a impressão de que ele vem ao meu encontro, mas logo percebo que essas mesmas águas, que o trazem para mais perto de mim, o levarão, como que zombando de meus sentimentos, oferecendo-me o que me será tomado impiedosamente.

Minha mente gira com as águas e, por alguns instantes, uma vertigem perturba minha visão. Talvez eu tenha percebido, em meio ao redemoinho, uma súplica que se perdeu para sempre.

Lentamente a tormenta dá lugar à calmaria.

As águas, agora brandas, límpidas e cristalinas, são agitadas apenas por uma lágrima que lhes cai.

Leandro Laube

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