Simplicíssimo

Ao meio

Eu preciso escrever. Sempre. Eu não sou porta, nem escritora, nem droga nenhuma. Eu apenas preciso escrever. É assim. O pensamento vai e não para. E precisa ir para o papel, para o computador. É assim que me alívio, que me transmito, que me transbordo. É assim que eu gosto. É assim que eu quero. Tudo passa muito rápido aqui, tudo parece querer sair para fora, escrever é a forma que achei de me colocar no mundo. Falar não é meu forte. Posso ficar quieta horas a fio, posso não pronunciar um palavra. Eu preciso escrever. As palavras fluem escritas. Aqui sou eu. Falando, nem sempre. Não me interessa o que acham do que escrevo. Gosto de que os outros leiam e isso é óbvio. Se não deixava guardado por aí. Aliás, tenho muitas coisas que escrevei perdidas nesse mundo. Bobagens sem tamanho, rabiscos sem importância, declarações não de amor por que Lenne não ama assim tão fácil, talvez algumas nas mãos erradas. Estão por aí. Um dia quem sabe eu pare de escrever e resolva falar. Ou não faça nenhum dos dois. Talvez eu recolha a minha existência insignificante e pare com tudo, me esconda, me refugie, me torne normal. Ou talvez eu continue por aqui mesmo, seguindo impulsos, escrevendo sem parar, querendo sempre mais. Eu quero sempre mais. Eu quero sempre aquilo que não tenho. Eu quero tudo. Eu preciso escrever.

***

Arrumar tudo. Sair do lugar, procurar outro. Não ficar por aqui, por que aqui não é mais meu lugar. Talvez nunca tenha sido. Talvez eu tivesse inventado tudo. Me conformado demais. Me amarrado demais. Todos os dias, e cada dia mais eu me vejo longe. Me vejo em outro mundo. Me vejo menos os outros mais eu. Não há como ficar, não há como sorrir, disfarçar, mascarar. Não mais. Não mais. Há tempos e tempos. Talvez esse seja o tempo de mudar. Talvez não. Esse é o tempo de mudar.

***

O que vale a pena? Assistir a novela das 6, das 7, das 8? Ler todos os jornais? Vale a pena sentir culpa, pena, raiva? Vale a pena acreditar? Vale a pena desistir? Sair do caminho, continuar? Qual é o limite aceitável para o que fazemos? Vale a pena jogar tudo para o alto, esquecer o resto, pensar mais em si? Vale a pena chorar, não dormir, ter insônia, se declarar? Vale a pena perder domingos no Beira Rio? Vale a pena tanta vontade, tanta esperança, tanto sossego? Vale a pena trair? Vale a pena viver aqui, ou ir embora? Como posso saber? Quem vai me dizer? Testo tudo. Vou atrás. Só posso dizer se vale à pena depois. Se não valer? Como eu iria saber? A única coisa que não vale a pena é remoer sentimentos por algo que nunca experimentei.

***

Eu não acredito em príncipe encantado. Só no cavalo do príncipe. Não acredito em fadas e nem em duendes. Isso aí é coisa de viagem sem volta. Acredito sim na praticidade das coisas. Acredito na minha conta no banco. Acredito que A8 existe. Acredito que uma noite de sono vale mais que qualquer balada. Acredito em internet. Acredito no Inter. Acredito que essa história de que trabalho enobrece o homem é história inventada por patrões. Acredito que existe racismo no Brasil. Não acredito na imprensa. Não acredito em telefonemas "privados". Não acredito em criticas em demasia. Não acredito em boa vontade. Não acredito em paz mundial. Não acredito em purgatório. Não acredito que parar de fumar vai fazer eu não ter câncer. Não acredito em mulheres que dizem a verdadeira idade. Não acredito que o Grêmio suba para série A. Não acredito em desculpas muito fáceis. Nem muito difíceis. Não acredito em família. Acredito em amigos. Acredito na Laura. Acredito (e por que não?) que um dia tudo vai estar no lugar que eu quero, do jeito que eu quero. Tudo. Até tu.

Lenne (somente Lenne)

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