Violentos Haikais 124/X
Para muitos, era gay
Boa gente, Aids por acidente
O que fazia, não sei
Faroeste 109/X
Quero pontes de pedra meu bem
Um bom pedaço eu sei que faço
Para aquela que me faz tão bem
石橋
Um estreito riacho separa dois viventes, que até poderiam ser amigos, amantes, confidentes. Poderiam eles, ganhar o mundo ou se perder no labirinto de uma louca paixão. Poderiam eles, ser amigos fiéis, defender seus mútuos interesses, tornar o planeta melhor. Quem sabe, seriam aqueles que raramente se vêem, mas quando isto acontece é como se estivessem tido estado lado a lado, durante toda a caminhada.
O que pode separar as pessoas: cargos, textos, religiões? Língua, idade, família?
No caso dos dois viventes era o tempo: um trabalhava de noite o outro de manhã. Como naquele velho desenho do coiote e do cachorro que mostra a vida dos dois como uma fábrica, ou como polícia e ladrão. Depois do expediente, nada de rancores ou discussões.
Desta forma, tinham vidas opostas, um dormia enquanto o outro trabalhava. Não se entendiam, pois o mundo era muito diferente. Um gostava do dia, outro da noite. Um era como um João, o lateral que enfrentaria o Garrincha jogando um bolão, o outro era o José, que morria de dor no pé. Enfim, nada poderia juntá-los. No futebol ou na vida.
Eis que um dia, se encontraram em um ônibus lotado, um voltando apressado, o outro já atrasado e o diálogo foi travado por volta das sete e meia da noite:
– E agora! Não vou conseguir descer na parada certa. Estou atrasado, meu patrão me mata!
– Você até que tem sorte, como vou explicar para minha patroa, o atraso no dia do aniversário dela, ainda tem muito chão para andar. Ela me mata.
– Puxa, cara que coincidência, minha mulher também está de aniversário. Mande meus parabéns.
Começaram a ponte. Um colocou uma pedra e o outro retribuiu. Muito ainda teriam que conversar. Um amava a Maria, o outro também (como a música do Gilberto Gil). Juntos cuidariam de um filho. De um terceiro, que amava a mulher deles enquanto estavam no ônibus.
Cada qual tem suas diferenças, cada qual tem uma maneira de ver relações entre tudo o que acontece no mundo. A grande questão da humanidade é que faltam construtores de pontes de pedra, aqueles que sabem que a única coisa a fazer é diminuir distâncias, atravessar riachos mas, deixando-os vivos, para que cada vez mais pessoas entendam a importância da água e das pontes. Que tirem das pedras do meio do caminho excelentes pedaços dos elos.
De ré na contramão, procurando pedras que sirvam em pontes!
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