Simplicíssimo

DoentiaMente

Teresa pode ser descrita por advérbios: imensamente solitária, pateticamente carente, visceralmente insegura, dolorosamente instável. Não é muito afetada pela realidade e pelas pessoas que vivem nela: enxerga o mundo de um jeito bem particular. Consome altas doses de nicotina – o melhor remédio pras freqüentes crises de tristeza paranóica. Tem habilidades medíocres, razão pela qual trabalha muito e arduamente. Os olhos verdes são muito claros e os cabelos artificialmente louros. O corpo é delicado e excessivamente bronzeado. Bonita e atraente, motivos de trazer o coração repleto de amargura e cicatrizes mal curadas. Seu grande objeto de afeição é Alice. A única capaz de ouvi-la e entendê-la. Capaz de aconselhar e conversar com ela durante horas. Capaz de dividir a casa e fazer-lhe companhia. Teresa admira muito Alice. Não passa um dia em que não queira ser como ela. Tão forte, serena, graciosa. Tão perspicaz e calculista. Tão independente, manipuladora e egoísta. Alice é a melhor amiga de Teresa – é o que esta declara devotadamente aos quatro cantos. A convivência das duas é extremamente harmônica: Teresa dedica-se a satisfazer, cuidadosamente, cada capricho de Alice. Sem perguntas, sem queixas. Simples assim. A satisfação de uma é o escopo principal da vida da outra. Teresa trabalha, mantém a casa, alimenta a ambas. Alice ocupa-se em dormir, se espalhar por toda a casa, tomar sol e, principalmente, dirigir a vida de Teresa – a diversão predileta. A distração de Teresa é usar a internet pela madrugada, ocasião em que pode ter contato com pessoas e fazê-las acreditar que é exatamente como gostaria. Corajosa, alegre, genial. Maravilhosa. Mas nem sempre Alice permite que ela se entregue ao passatempo, reivindicando peremptoriamente a atenção da amiga pra si. Ela dá palpites e ordens, zomba da fragilidade e frustra sem pestanejar os planos de Teresa. Alice vive feliz, em detrimento de Teresa. Esta depende da outra e a idolatra de tal maneira, que vive convicta de que mimá-la é a felicidade que pode ter. Sempre existirão os fracos e os fortes e, em relacionamentos é muito comum que aqueles dominem a estes. E nesse caso também seria, se Alice não fosse uma gata.

Livia Santana

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