Simplicíssimo

Pobre Paulista

O sangue pulsava em suas veias e sua têmpora parecia prestes a explir enquanto caminhava apressado pela avenda paulista imunda, forrada de farrapos que fingiam-se gente e praguejavam a cada passo que dava enquanto relutava dar seu suado dinheiro, quase todo do banco já que andava sempre no vermelho, e os mendigos e miseráveis nào entendiam por que aquele filho da puta não dava uma porra dun trocado e daís se fossem torrar quase tudo em baseado se era para eles mesmo um dinheiro que para aquele endinheirado não faria falta.

Mas ele caminhava irritado, com peito arfando um calor fora do comum e sentindo-se agitado, irritado, suado, com a camisa branca colada no corpo no dia quente e úmido enquanto fugia do trabalho na hora do almoço que não tinha e ia negociar um empréstimo com o gerente, para poder fechar as contas e ficava irritado de ter que ir lá negociar quando já ganhava bem mas o que ganhava não dava nem para o meio do mês e ele nào entendia onde ia tudo sem ele ver se mal pagava um carro usado, um apê alugado e a comida do dia a dia e vivia, sobrevivia quase sem luxo e sem vontade de viver, trocando seus trocados por pequenos regalos que para ele fingiam ter significado, eram troféis por todas as horas de sua vida que trocara em algo que fazia sem gostar, sem gozar, sem curtir.

Todos os putos do mundo deveriam ter aparecido na sua frente naquele momento e a cada vez que fingia não ver, nem inalar, aqueles mendigos purulentos e sujos e as ciganas em gincanas aqui e ali ele sabia e ouvia um praguejar como se sua vida fosse assim, muito melhor que a deles, só por que usava um terno suado e surrado e andava atropelado num horário inventado para ir ao banco tentar ganhar mais dinheiro emprestado.

Seu celular quase sem bateria era outra prova de dinheiro sobrando nos bolsos aos olhos dos que necessitavam e o viam transitar apressado e fugindo deles, enquanto atendia o telefone prateado, caro, que tocava sem parar. "O douto deve ser importante, deve ter carro importado", e ele alí fingindo que não era com ele, porra, com quem era então, com a cigana atrás dele que não era, não, só tinha ali um doutô e o maldito fingindo não ouvir enquanto falava ao telefone caro e corria para o banco como quem foge do inferno para o paraíso para isso ia acabar agora, com aquela poca vergonha diante do desprezo dos endinherados por quem tá carente, sem dente, mijado, fidido e assado.

E ele viu quando um dos mendigos, mais um, se levantou e foi até ele, e ele já apertou a carteira no bolso quando viu que ele, desta vez, não ia pedir dinheiro ia era parar com aquilo tudo de vez e sem pensar, nem rezar, só pensou no quanto devia e para quem tudo aquilo iria quando o cutelo cego furasse seu peito e o mendigo se ria e mijava e festejava pois para ele era dia de cosme e damião.

E ele tinha feito justiça matado mais um porco no mundo que não quis dar a porra de um real que fosse para quem tinha a fome sabia que, ainda que fosse preso, nada tinha a perder, ao contrário, ia ganhar ainda o teto e a comida do dia a dia, dada pelo estado através do dinheiro colhido, tolhido, de outros tantas e tantos filhasdaputa endinheirados como aquele porra alí estirado no chão, que morreu segurando a carteira e celular que não parava de tocar.

Luiz Emanuel Campos

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