Simplicíssimo

Último show de indiferença

Todos perguntavam como ele conseguia “sobreviver” àquela situação: ao meio de dois casais, certo que ladeado por duas amigas.Tinha motivos aos olhos dos outros, de se sentir desconfortável, mas aproveitava a noite como há muito não conseguia. O show era fantástico, como esperado, as expectativas foram confirmadas. As músicas passavam e cada vez mais se emocionava mesmo ele que sempre guardava tudo lá dentro.
 
Não percebia, mas suas amigas batiam nele sem sucesso, pois era como se estivesse em transe, eis que uma tentativa mais efusiva o chamou atenção:
—Ei, olha poxa, estamos há horas te cutucando e você nem se mexe.
—Como quem tinha acordado esgueirou-se e notou os namorados de suas amigas dormindo, teve imensa e prazerosa vontade de rir, não se conteve, só cuidou para não rir alto demais. Até que foi interrompido:
—E você ainda ri? Mas não estamos te chamando por causa disso não. —Ele as interrompia como quem queria mesmo continuar em seu “transe”.
—E é o que então?
—Olha ali na esquerda, não é tua amiga? Cristina? Vê só se ela não está caída? E eu vi algo brilhando, Roberta também viu, que é que tu vês?
—Hummm, melhor ir lá me certificar
—Passou devagar pelas fileiras, apesar dos protestos, e finalmente chegou à cadeira de sua amiga, olhou, olhou e não sabia direito mais porque estava ali. Via mesmo uma bela mulher adormecida, com um celular brilhante na mão, realmente caída, pegou o celular de suas mãos e pra sua surpresa deparou-se com seu número estampado no visor. A pergunta “chamar novamente?” completava a tela. Pôs seus dedos no pescoço dela, sim, estava respirando e mostrava-se mesmo aparentemente apenas adormecida. Então decidiu ajeitá-la na cadeira e voltar a seu lugar. Chegando lá pegou seu celular e escreveu: “Nunca mais serei indiferente com você bela adormecida.”

Frank Santos

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