Simplicíssimo

Mais do Mesmo, Outra Vêz…

Destaque-se a versatilidade. Os ambulantes das grandes metrópoles são, diríamos, organizados. Vendem o mesmo produto, lado a lado. Gritam as mesmas coisas. CD´s, DVD´s (testados na hora), brinquedos, cigarros, cintos, tênis, MP3, MP4, bóias, piscinas infláveis, canetas, pilhas, kits de mágica, pomadas milagrosas, guarda-chuvas, chocolates, frutas, camisas de times ou marcas famosas, controles remotos. Bem na frente da loja que vende o mesmo produto, em paz, amém. Produtos de origem e qualidade duvidosa, quase sempre. Manda a moda. O novo filme do Denzel, antes mesmo do lançamento no cinema. Lá estão eles, vendendo, porque tem sempre muita gente comprando. Você pode encomendar com qualquer um deles um produto. Têm garantia. Se der defeito, me procura, patrão. Eis meu cartão. E nem me venha com essa conversa de que é melhor estarem vendendo do que roubando. O problema é muito maior do que isso. Sem simplismos, por favor.

Vem o verão, cai a chuva forte. E na chuva não dá pra vender. Vão-se todos. Vão-se todos trocar o produto, ora essa. E lá vêm os guarda-chuvas. Idênticos. Ambulantes e produtos, idênticos. Preços idênticos. A gente temos de cinco, de dez e de quinze, patrão. Não quer, tem quem quer, com certeza.
Calçadão, tarde, perto das três. Mais uma chuva de verão, e mais uma chuva de ambulantes com seus necessários produtos. Muita gente desprevenida. Conheço gente que tem mais de dez guarda-chuvas. Benditos salvadores nessa hora tão incômoda.

A guarda-civil posiciona-se. E sem muito esforço encontra um desastrado ambulante correndo de um solitário policial municipal. Todos a postos, nem precisou muito. O infeliz desequilibrou-se, caindo junto com seus aproximados cinqüenta artefatos no chão da Rua Direita. Em menos de dois minutos rodeavam o moribundo perto de vinte policiais municipais, e chegavam mais. O movimento atraiu também o transeunte, à procura de uma emoção maior que a novela das oito.

Sabe aquela lei da selva? O mais fraco cai, os predadores fartam-se, e o restante da manada está salva. Lei natural, preservação da espécie.

O pivete farta-se na bolsa da senhorinha que parou para ver o tumultuo. Sai com seu sorriso marrom, um cartão de gratuidade do idoso, menos de trinta reais, e é barrado pelo PM, sem chance de escapatória.

– Meio a meio, ou o bicho vai pegar, rapaz.

A chuva cessa, e a paz retorna ao calçadão do centro de São Paulo. O pivete ficou sem os trinta reais, mas negociou com o fornecedor de crak o bilhete único, e teve uma noite bem mais agradável na Praça da Sé…

Marcos Claudino

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