Simplicíssimo

Uma grande chance perdida…

São Paulo, 07 de novembro de 2005.

A GRANDE CHANCE PERDIDA

Pescaria marcada, ficamos de nos ligar para combinar o horário da saída. E o tempo foi passando, as horas corriam, e nada… Ninguém ligava, e eu quase acreditando na praga de minha noiva, que, desde o início, não queria que eu fosse. Pescaria em alto mar é perigoso, dizia ela, sem nunca ter ido e conhecido a aventura…
Mas, eis que 22:30 horas, o telefone toca. O primo confirmava que sairíamos às 02:00 horas da matina… Aprontei as coisas e aguardei o horário…
Já na partida, ocorreu-me que aqueles sujeitos só telefonaram uns aos outros, após o horário da novela, o derradeiro capítulo, aquele momento onde todos os bons se casam, e todos os bandidos são presos, ficam burros, e são enganados.
Por que será que nos prendemos a isso? Confesso, assisti sim, mais porque a noiva não queria sair, do que por vontade, mas, mente fraca, assisti, penitenciando-me a cada absurdo jargão e destino mal traçado da autora, bem aparelhados pela maior rede de tv no país, e uma das maiores do mundo.
O que me deixa exausto é esta triste noção de que assuntos importantes são seriamente tratados. O filho gay parecia mesmo uma boa bandeira. Mas, vindo de mentes torneadas pelo padrão Marinho, fica meio esquisito. Decepcionei-me pelo beijo que não aconteceu. Creio que esse beijo seria uma espécie de redenção ao óbvio, uma rendição da hipocrisia de quem acha que está realmente dando um bom exemplo ao povo ignorante, mais ainda por culpa deles.
Uma pena. O filhinho gay virou designer de moda importante, enfrentou a mãe e todos, descobriu-se, aceitou-se, declarou-se ao peão amado, mas, na hora da honestidade, teve o beijo indeferido pelos padrões “imorais” que comandavam a câmera filmadora…
Este beijo eliminaria o boi de três cabeças, a carola vagabunda (infeliz tentativa de ataque oculto ao bispo da TV ao lado), eliminaria o fato de que nenhum peão trabalhava em nada, todos os dias haviam festas com cantores famosos, eliminaria o bar do militar, que substituía o mesmo bar da ex-chacrete da novela anterior, eliminaria aquele traste de atriz que chorou a novela inteira (talvez de vergonha, duvido muito), eliminaria uma pensão mexicana onde todos falavam português, eliminaria todas as alucinações do ator principal em seu coma profundo, e tantos absurdos alucinógenos dos elaboradores daquele desacato ao mínimo bom senso…
Uma pena. Confesso que tive um mínimo de esperança… Um resto de desejo de que um dia, alguma coisa encenada poderia chegar aos pés de nossa realidade, onde os maus, os bandidos, não são presos, continuam enganando, e se safam facilmente. Uma mínima chance de ver um bonzinho se dar mal, porque é isso que ganhamos em ser honestos neste mundo cada dia mais desumano e consumista…
Enfim, já reclamei demais. Agora vou dar uma passada pela Belíssima, para colher argumentos mais fortes para continuar atacando esta falta de vergonha deslavada em alienar pessoas que querem ser alienadas… Quem sabe mais tarde, até posso assistir o João Kleber…

Marcos Claudino, cansado de guerra, procurando por um Almodovar, um Nelson Rodrigues, um Plínio Marcos, ou até mesmo um corinthiano feliz pelos sete gols, num boteco qualquer…

Marcos Claudino

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