Simplicíssimo

Resolvi parar de escrever (Parte 2)

  Acham que estou brincando? Estou falando seriíssimo. É porque o jornal aqui da cidade não tem site, senão mostrava o link pra vocês. Ah, esqueci de dizer que a cidade onde moro é um ovo. Interior e tal, não é uma cidade grande. E as pessoas que vivem aqui, vocês precisam ver, têm uma mentalidade tão pequena, que vou te contar. E o bonitinho aqui inventou de criar um blog. Eu devo mesmo me achar melhor que todo mundo, como o Raskolnikov, do Dostoievski. Mas também, tenho motivos pra achar isso. Ninguém que eu conheço aqui na cidade leu Dosto. Nem Nietzsche. Que, de certa forma, roubou a teoria do Super-Homem do velho Dosto. Sacanagem. Mas enfim.
 
  Um belo dia, escrevi um conto que era mais ou menos assim: um rapaz, com a mesma idade que eu, recebe um telefonema de mal gosto. Um trote. E ele tem em casa um daqueles aparelhos identificadores de chamada. O que ele faz? Anota o telefone, liga para o número de informações da companhia telefônica, e pergunta se a atendente poderia lhe fornecer o endereço daquele número. O que ela faz. É de um telefone público – e ainda lhe dá um ponto de referência: uma academia de ginástica a uma rua da casa do rapaz.
 
  Quando o telefone toca novamente, e ele vê que é o mesmo número que havia ligado antes, ao invés de atender a ligação, ele vai correndo ver quem está no orelhão. Da esquina ele consegue ver um senhor se afastando do telefone, como se acabasse de fazer uma ligação. No final do conto, o rapaz mata o tal senhor e vai preso. Ok.
 
  É um conto, certo? Uma história. Mas aí um amigo meu, que mora aqui perto, leu a droga do texto e começou a achar que poderia mesmo ter acontecido. Já que realmente há uma academia de ginástica por aqui e existe também um senhor com as mesmas características que o citado no texto. E ele mora perto da gente.
 
  Eu não sei como diabos isso foi acontecer, mas o tal senhor sumiu. Um dia depois de eu publicar o conto. Como ele mora sozinho, a casa estava fechada e nenhum vizinho sabia seu paradeiro. É um homem bastante estranho, esse senhor. E meu amigo, bom amigo que é, ligou para a polícia, dizendo que eu havia matado o velho. Graças a Deus, a polícia investigou direitinho (coisa difícil de acontecer, ein?) o caso, e conseguiu falar com o homem. Ele havia apenas feito uma viagem.
 
  Mas a coisa havia ficado séria. Eu quase fui preso. E ainda continuavam a me perguntar sobre os outros textos.

Rafael Rodrigues

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