Simplicíssimo

Creme

Entrou numa loja de produtos de beleza.

— Quero um hidratante corporal de chocolate.
— Vejo que o senhor veio decidido hoje!
— É.
— Temos esse aqui. Quer sentir o cheiro?
— Não… Não precisa.

Não precisava. Ele já conhecia.

— É pra presente? Não quer mesmo que eu faça um pacote de presente? Quer experimentar outros aromas? Temos o de morango com champagne, kiwi com maçã verde, maçã e canela…

Já tinha experimentado todos. O de morango era bom, mas isso não fazia diferença. O de maçã com canela parecia que era de bolacha. Comprar esse tipo de coisa era bem melhor quando se sabia que alguém ia receber o presente e usá-lo. Ele só queria sentir o cheiro das madrugadas felizes de sua vida. Não chegara a usar nem metade do frasco. Nessas horas se pensa quantas coisas foram deixadas de fazer, quanta coisa passou batida… Mas não era hora pra isso. Já era, acabou. Ele deveria esquecer, mas gostava do cheiro. Era a única coisa que podia carregar consigo, pensou.

Era um aroma muito bom. Combina com o inverno, foi o que a vendedora falou, há três meses, quando ele tinha comprado o primeiro frasco, este, para presente. Encheu os pulmões com aquele aroma até o limite, como se dali fosse sair um gênio ou como fosse se abrir um portal para um mundo melhor. Teve uma lembrança boa. Só uma também. Afinal de contas, não precisava passar o resto das suas noites cheirando um pote de creme. Viu um mendigo na rua, dos bem fedorentos. Jogou o frasco para ele.

E fez uma promessa: Nunca mais seria fiel! Nem a nada nem a ninguém!
Isso não iria mudar muita coisa. Mas os cheiros seriam tantos que não teria com o que se preocupar depois.

Rodrigo D.

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