Simplicíssimo

Meus Escotomas

Sofro de pulsos periódicos de culpa por minha imensa ignorância sobre as coisas inerentes à vida e o conhecimento acumulado pela humanidade até aqui. Geralmente isso me faz buscar livros antigos, pois tenho uma crença, meio mística, é verdade, de que vale a pena ir buscar as grandes idéias em seu nascedouro.

Lentamente, em brevíssimos paroxismos, meu coração se dedica à busca de trabalhos dos mestres do passado. Minhas limitações intelectuais não me permitem alcançar muito: Kant permanece um bloco de mármore, Aristóteles, um desconhecido, e toda a filosofia ocidental e oriental, continentes distantes dos quais não diviso sequer o doirado pórtico.

Mas de algum lugar há que se começar, mesmo que ao acaso… Não totalmente ao acaso, ou não estaria interessado em autores da Europa do século XIX. Sim, o Velho Mundo do século XIX, cujos sopros românticos de sua música, tão caros para mim, me fizeram embarcar, não em águas nietzcheanas, mas na tímida barcarola de Schopenhauer.

O nobre filósofo, por muito tempo eclipsado pelo palácio dialético hegeliano, escreveu vários textos de fácil digestão, escritos num estilo vigoroso e direto, alguns dos quais me divertiram por alguns meses. Fazia tempo que não lia um autor tão crítico, tão mordaz, por vezes na borda do que hoje carimbamos como politicamente incorreto, mas de tamanha qualidade e brilho.

Fazia tempo também que não parava para pensar por mim mesmo. Minha condição cerebral não me habilita a refinados empreendimentos mentais, proletário do setor mental-mecânico que sou. Mas ainda assim é bom parar de papagaiar frases soltas que vivem me oferecendo por aí, e pensar além da fumaça verbal que criam com o propósito único de me manter amarrado ao mesmo pasto, e comendo do mesmo cocho. Dócil executor de tarefas técnicas, nas mãos de quem estou? Não sou pago para pensar. Não obstante, posso ousar fazê-lo em minhas horas vagas.

Há uma atmosfera reinante de pensamentos-padrão, frases feitas e palavras mágicas, que assisti passivamente se formar nos últimos trinta anos, e hoje contamina meus pensamentos, atos e juízos de valor sem que eu sequer perceba. E isso é muito grave para mim, pois percebo as repercussões em meu ofício, paulatinamente enfraquecido e vilipendiado por décadas de propaganda difamatória travestida de saber científico.

Hoje luto por minha dignidade cerebral. Estou decidido a não mais me contentar com amostra grátis de discurso que nem sei de quem é. Tenho uma intuição muito interessante, qual seja, não é boa idéia falar e agir sem pensar, mas não é possível pensar suficientemente bem sem pelo menos tentar estudar filosofia. Se O Mundo Como Vontade e Representação, ou qualquer outro livro, autor, época, ou sistema pode me ajudar, ainda não sei. O que importa, por ora, é me dar uma chance.

Luiz Eduardo Ulrich

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