Simplicíssimo

Causas e efeitos

Prato cheio para a feroz crítica de engomadinhos deste ou daquele lado, os jornais ditos alternativos ainda ajudam muita gente a fugir, a desenvolver uma visão menos industrializada sobre os assuntos mil. Não que estejam certos em suas conclusões ou desenvolvimento de temas, mas o simples fato de tomarem para si um assunto dito “popular”, e analisá-lo de uma maneira diferente, já dá uma mecânica diferenciada à recepção destes temas.

Toda esta enrolação inicial foi só para justificar-me, nessa minha mania besta de ir contra a tendência. Quer fazer-me torcer o nariz? Diga-me que está na moda. Fazer o que, um ranzinza convicto, sentido-se cada dia mais só, mas fiel, principalmente à sua própria loucura. Mas, vamos aos fatos, que eles, infelizmente, existem.

Matéria de capa: Marcelo da Silva, ex-marido da atriz Suzana Vieira, encontrado morto dentro de seu carro, vítima de overdose de cocaína. Pronto. Eis um furacão a ser adentrado. Surgem nos próximos dias especialistas comportamentais, fofoqueiros profissionais, jornalistas sérios, quadros especiais nos dominicais (que a cada dia se imitam mais), e teremos durante semanas o assunto visto de todos os ângulos, o que, diga-se de passagem, seria, a princípio, benéfico.

E por que eu disse “seria”? Simples. Porque ao que parece, esqueceram o principal. A matéria de Norma Couri, de 16/12/2008, no informativo Observatório da Imprensa traz uma forma de raciocínio que eu, desta vez, concordo plenamente. Preconceito. Pura e simplesmente preconceito.

Tirando o exclusivo fato da morte por overdose, temos alguns “temperos” nas entrelinhas, que tornam a venda das revistas e a audiência ainda mais satisfeitas. O envolvimento do rapaz com as drogas é um dos fatos, apenas. Aliemos a isso uma declaração da “amiga do louro José”, dias antes, ao vivo para todo o território nacional. Ficou quente, não? Pois temos mais tempero. O comportamento pouco ortodoxo do rapaz, suas escapadelas ocasionais, escândalos de prostitutas, menores de idade, e a amante atual avisando a “oficial” do envolvimento, violência, ciúmes, pés nas bundas específicas. Pronto, temos aí uma perfeita panela de pressão que despejará seus dejetos bem cozidos, prontos ao consumo.

E você dirá, se conseguir chegar até aqui (o que eu sinceramente agradeço), cadê o preconceito? Pois é, mas o fato não explícito, implícito nos verbos declarados está aí mesmo, precisamos procurar com a lupa. Com todas as formas delineadas nas declarações, preocupadas em não ferir este ou aquele, nem perder sua bem trabalhada reputação (podem tirar o “re”), e encontraremos o que realmente passam, dentro do escrito, nas idéias: “Onde já se viu uma senhora de 66 anos de idade casar-se com um rapaz tantos anos mais moço”?

Alguém notou? Fomos só eu e a Norma que achamos isso? Estaríamos eu e a Norma bitolados em nossa busca constante pela desmoralização da grande mídia? Pode ser isso e muitos outros motivos, confesso, despreocupado que sou da opinião alheia…

Mas foi o que eu pensei. Foi o que eu percebi. Foi a bola da vez para a alimentação da minha não-credulidade nos meios de comunicação. Queiram ou não, não podemos culpar a imprensa como a formadora das opiniões que tanto prejudicam nossos dias. A falta de senso crítico não vem da imprensa. Vem de outros fatores, como a falta de cuidado com a nossa formação cultural, pouco interessante a qualquer detentor de poder.

Perceberam que a linha era a mesma na época do escandaloso envolvimento do galã Gianechini com a feia e velha Marília Gabriela? Só poderia terminar mesmo, eles não combinavam, era um desperdício, ela devia pagar para ele, etc, etc, etc… E coisas bem piores, muito perto dos meus cansados ouvidos, à época.

Quando o velho arranja uma nova namorada, dentro ou fora do casamento, ostentando-a como à cabeça de um feroz rinoceronte pego a unha no último safári, mesmo que a troque mês a mês, pode até ser uma pouca vergonha, mas é uma pouca vergonha aceita. Estaria eu inventando?

E ao final dessa minha odisséia mirabolante, o que tenho para encerrar é apenas meu pesar. Meu pesar porque o preconceito que tanto abomino, o preconceito não declarado, sentido apenas, não falado diretamente, ainda tem grande força em nossas casas, entrando pela TV, pelo jornal, pela revista, pelo gibi, e muito pouco delimitado pelos reais interessados.

Parabéns à Norma Couri. Embora meus parabéns não proporcionem uma mínima recompensa pelo bem que a matéria pode fazer a todos, desde que interessados, e aí é que está o problema.

Um abraço, e boa sorte a todos nós.

Marcos Claudino

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