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Vida de aposentado

Vida de aposentado

Luiz Maia

Dia desses seu Inocêncio acordou contente como nunca. Estava feliz da vida por ter finalmente se aposentado. Na manhã seguinte reuniu os amigos para comemorar num bar perto de sua casa. Mostrava-se tão feliz que resolveu pagar cerveja para todo mundo. Seu Inocêncio parecia uma criança, passava o tempo enaltecendo aquele momento especial. Falou aos amigos da lembrança que tinha de seu primeiro emprego, de sua luta trabalhando duro para sustentar a mulher e seis filhos, até chegar o dia em que realizou o sonho da aposentadoria. "Que maravilha" – pensou!

Noutro dia seu Inocêncio se acordou cedinho, tomou café nas carreiras e foi ao banco receber dinheiro. Dali mesmo resolveu ir ao Shopping fazer compras. Passando diante de uma vitrine, viu uma TV Plasma de 42 polegadas! "Que belezura" – falou! E ficou doidinho para adquiri-la. Ao saber do valor alto, ele resolveu ir ao banco para realizar um empréstimo. Passados alguns dias, já de posse da grana, foi ao Shopping e comprou a TV a prazo, em 36 meses. Chegou em casa falando alto, dizendo à mulher que de agora em diante ela teria um cinema em casa, que não via a hora do domingo chegar… Aquele sonho de consumo estava nos planos de seu Inocêncio desde que o cinema do bairro fora transformado em templo evangélico.

No esperado domingo seu Inocêncio pegou a mulher pela mão e juntos se acomodaram no conforto de um surrado sofá. Antes de ligar a TV, foi à geladeira e trouxe uma cerveja gelada. Ele queria ver Gugu, enquanto ela desejava assistir ao Faustão. Ambos começaram a discutir achando que um era melhor que outro. Não faltaram as argumentações mais ingênuas para convencimento mútuo. Para ele Gugu oferecia um programa de elevado nível cultural, enquanto ela adorava Faustão por mostrar atores e atrizes de novelas, em seu originalíssimo programa.

Enquanto eles discutiam, a televisão ficara ligada na TV Cultura, apresentando um enjoado programa que abordava a difícil arte de educar os filhos. Enquanto não chegavam a um acordo, seu Inocêncio foi tomando as cervejas que restavam. Já bêbado, cansado de argumentar em vão, ele culpou a mulher por não entender nada de bom gosto. Danou-se também com a TV Cultura por exibir filmes medíocres que o deixavam com sono. Foi percebendo sua embriaguez, e notando a bermuda dele toda suja de cerveja misturada à farofa, que sua mulher, meio cambaleante, o levou para dormir sem que ele pudesse inauguarar a TV Plasma de 42 polegadas, comprada por um preço exorbitante.

Luiz Maia
http://br.geocities.com/escritorluizmaia/
msn:
luiz-maia@hotmail.com
SKIPE – luizmaia1
Autor dos livros "Veredas de uma vida", "Sem limites para amar" e "Cânticos".
– Edições Bagaço – Recife/PE.

 

Luiz Maia

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