Simplicíssimo

Hoje (3)

2007-01-05
Acordei às 5 da manhã, mergulhado em suor. Tive um pesadelo
incrível por causa da máfia da tintura de iodo. Mas, claro, nada que se
compare à realidade. Ao fim e ao cabo, no sonho, não tive que andar a
pé por já não ganhar o suficiente para ter carro, e não tive que
prescindir de várias manias (tais como ir de férias, ir ao dentista, ao
oftalmologista, ao otorrinolaringologista, ao barbeiro, ao cinema, à
FNAC e até à fava, se for preciso) que a sociedade de consumo nos
impõe, mas cuja incapacidade de manutenção nos torna infelizes. Nada
disso, no sonho eu vi-me, de repente, a falar com a balconista de uma
loja, uma chinesa mal-encarada a quem eu já perguntara, em sonho,
pela tintura de iodo. Ela fez um sinal com as mãos a alguém que estava
ao fundo da loja e, daí a pouco, senti-me rodeado de três gigantes
trajando sobretudos de cabedal preto, óculos escuros e chapéu.
Mafiosos, pela certa, pensei. Estou tramado. A senhora chinesa acusoume,
então, aos mafiosos, nestes termos:
– Esti sinhôl quel tintula iodo!
Eu estava completamente aterrado, e tentava dar o dito por não
dito, que não era tintura mas sim outra coisa qualquer, que a senhora é
que tinha percebido mal. Mas ela repetia: “Tintula, foi tintula que ele
disse. Foi tintula, tintula, tintula…”
E a palavra “tintula” massacrava repetidamente a minha mente,
no sonho. Depois vi-me nuns corredores de metro, a ser perseguido
pelos mafiosos, e eu a imitar aquele gajo do filme Matrix, a escalar
paredes, e a tentar atingir com golpes de pés os meus perseguidores.
Mas os meus movimentos eram muito lentos, demorava um tempão a
subir pela parede, e a dar a cambalhota para trás. Eles pareciam estar a
troçar de mim, da minha falta de jeito, e senti-me perdido; a última
coisa de que me lembro foi ter saltado para cima de um comboio que
passava, esperando assim fugir de lá para fora. Os gajos vão me
apanhar pela certa se o comboio não arrancar já, sonhava eu. E foi
neste estado de pânico, a transpirar com o esforço de andar a pular,
que eu acordei… em cima do guarda-fato. Ainda estou para saber como
é que fui lá parar.
Depois deste pesadelo, não sei se deva ir ao chinês. Foi um aviso
da máfia, os gajos hoje em dia têm métodos muito mais sofisticados do
que os que usavam no passado. Eles já não precisam matar ou mandar
matar alguém que se lhes opõe, utilizam a psicologia de massas, têm
os “merdia” ao seu serviço para induzir o medo e os sonhos nas
pessoas. Deste modo, conseguem manter-nos mansos que nem
cordeiros e ninguém se revolta contra o açambarcamento da tintura de
iodo – e não só! E que remédio temos senão ir comprando as pomadas,
os sprays, os clisteres e etc. que a máfia produz, porque a tintura de
iodo, que antigamente era algo tão banal, será muito em breve um
produto que a máfia irá traficar, ou vender ao Ministério da Saúde por
preços exorbitantes.

 

Henrique Sousa

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